QUEDA DE ULTRALEVE NA PRAIA DA MACUMBA – piloto e co-piloto são salvos

Imagem arquivo de internet (ainda não temos filmagens/fotos da cena real)
Por Dr David Szpilman

Inusitado e inesperado, por mais que pensemos que estejamos preparados a atender qualquer tipo de emergência, não estamos.

Eu estava no feriado de 20 de Novembro 2013, no Curvão, Praia da Macumba. Havia saído da água, todo preparado para retornar a minha casa. Havia acabado de amarrar minha prancha na byke, de costas para o mar, e ouvi um tremendo estrondo. Me virei, e vi que havia caído uma aeronave dentro da água, ali a 100 m de onde eu estava no calçadão. Todo pronto a partir para casa, fiquei pelo menos alguns segundo pensando em como deixar minhas coisas? levar a prancha?(tinha que solta-la ainda),meu óculo escuros de grau? Boné de surf sim(com presilha), mas solto na cabeça, amarrá-lo? tirar o sapato? E tudo isto ainda no calçadão. Comecei rapidamente a tirar sapato, desamarrar a prancha, largar a byke, pulei o calçadão com meu pranchão para a areia e corri feito um louco com várias perguntas na cabeça. Será que o motor parou? Como fazer nestes casos se o meu treinamento do UTEPAS foi com helicóptero e eu como vitima e não como socorrista e a aeronave era diferente?. Entrei na água e nadando poucos metros percebi que havia me esquecido de desamarrar o “leash” da prancha que estava me atrasando na remada, óculos e boné soltos, e a cena que encontrei foi de um ultraleve praticamente submerso, sem barulho de motor, minha preocupação foi, se haviam saídos todos (naquele modelo no Maximo 2). Perguntei a um dos acidentados que parecia bem, você está sozinho? Ele disse não, meu amigo esta lá embaixo, foi quando avistei um surfista trazendo o outro que estava faltando de dentro da água, com capacete, colete, fone, e todo aparamentado. Minha atitude foi colocá-lo imediatamente em cima do pranchão agarrando-o pelo colete, examinei-o rapidamente e como estava me respondendo, solicitei ao surfista que o havia socorrido que ajudasse o outro que parecia bem, pois estava flutuando sem colete e por conta própria e comecei o reboque a areia conversando com a vitima em questão, quando chegou o Sgt Nobre , GV supervisor da área, mas de folga e havia observado o acidente, e logo em seguida chegou o GV da área e juntos tiramos os 2 acidentados. Já na areia examinei os 2 e eles haviam sofrido apenas escoriações muito leves e aquele que foi retirado de dentro do ultraleve estava em grau 1, mas a situação estava controlada sem sinais de TRM e outras possíveis lesões. Os dois acidentados se olharam e naquele momento nada necessitou ser dito – estavam salvos de um acidente que a maioria morre. Um milagre? Talvez, mas a paz havia tomado conta totalmente do lugar e as pessoas sorriam umas a outras, num momento mágico de poucas oportunidades na vida.

Alguns comentários técnicos:
1. Levam-se alguns segundos para realizarmos a avaliação do que vale mais, qual a prioridade, neste caso como ajudar outro sem perder suas coisas materiais.
2. Por mais que você esteja acostumado a realizar salvamentos, cada um é diferente do outro e quanto mais ferramentas (conhecimento e técnica) mais fáceis são as escolhas.
3. Mesmo com minha experiência de mais de 25 anos na área de salvamento e emergências médicas nesta área revejo várias coisas que deveria ter feito de forma diferente, tais como: soltar o “leash”, prender boné, e ainda imobilizar a coluna cervical do co-piloto. Isto mostra a todos nós que lidamos com este tipo de resgate, profissionais ou não, que sempre existem coisas que faríamos diferente quando temos a oportunidade e a humildade de admitir que somos humanos e falhamos.
4. Mesmo que o resultado final tenha sido positivo, é importante fazer uma revisão do que aconteceu, suas opções e rever como aprendemos destas lições.

Veja capítulo de queda de aeronave na água e o resgate em nosso manual de Emergências Aquáticas

Dr David Szpilman

Dr David Szpilman

Dr David Szpilman - Sócio Fundador, Ex-Presidente, Ex-Diretor Médico e atual Secretário-Geral da SOBRASA; Ten Cel Médico RR do CBMERJ; Médico do Município do Rio de Janeiro; Membro do Conselho Médico e Prevenção da International Lifesaving Federation - ILS; Membro da Câmara Técnica de Medicina Desportiva do CREMERJ. www.szpilman.com